Trabalho análogo à escravidão na colheita de uva na Serra Gaúcha
Polícia desvendou esquema envolvendo 206 trabalhadores, agricultores e empresas vinícolas

Por Vladimir Cunha dos Santos
01/03/2023 20h55

Uma notícia que correu mundo na semana passada envergonhou os gaúchos que prezam pelos direitos humanos.

A polícia desvendou em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, um esquema de trabalho análogo à escravidão, envolvendo algumas empresas vinícolas de tradição e mais de 22 produtores de uvas para a elaboração de vinhos e sucos.

Em torno de 206 trabalhadores foram libertados pela Polícia que apreendeu em alojamentos insalubres também armas que seriam utilizadas, conforme depoimentos, para ameaçar os trabalhadores que se rebelassem contra o esquema.

Depois de libertos, os trabalhadores que operaram na colheita da uva em janeiro e parte de fevereiro deste ano, foram alojados em um ginásio de esportes na cidade, com auxílio e tratamento adequado.

Aproximadamente 195 trabalhadores foram enviados para a Bahia, sua terra natal, de onde vieram para o Rio Grande do Sul com promessa de trabalho e salários, com condições dignas de vida e direitos.

Um empresário baiano foi preso por acusação de manter os trabalhadores contratados por sua empresa para prestação de serviços na colheita da uva em condições precárias. Ele pagou uma fiança de 30 salários mínimos, em torno de 39 mil reais, e foi solto no mesmo dia da prisão. Vai responder o processo em liberdade.

O empresário  terá que pagar todos os direitos trabalhistas dos aproximadamente 200 trabalhadores contratados para esta safra. Porém, se não pagar todos os direitos previstos na lei, em última instância as empresas vinícolas e os produtores onde os trabalhadores exerceram atividades laborais, terão que assumir o pagamento. 

Foi uma vindima triste na tradicional Serra Gaúcha de tantos vinhos, espumantes e sucos premiados.

Um 2023 pra não esquecer e nunca mais repetir. A cadeia produtiva da uva deve refletir seus sistemas e pagar justamente, com legalidade e dignidade, os seus colaboradores da ponta do processo, onde tudo começa, na colheita do fruto para ser industrializado e gerar renda.

Fica a lição e que sejam responsabilizados os infratores para que não cometam mais práticas de semelhança à escravidão, uma espécie de escravidão moderna de novos tempos. Mas com os mesmos critérios de exploração inadequada do ser humano. 

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