CULTURA
Morreu o ator e diretor Milton Gonçalves
   
Arte cênica brasileira perde um grande ícone

Por VCS Notícias e JN
31/05/2022 14h54

Morreu no dia 30 de maio, o ator e diretor de TV, cinema e teatro Milton Gonçalves, aos 88 anos de idade, em casa, na cidade do Rio de Janeiro.

O ator sofreu um AVC em 2020 e desde então lutavacontra as sequelas da doença.

Milton Gonçalves participou de dezenas de novelas, seriados, filmes e peças teatrais. Era um ícone da dramaturgia brasileira, com várias premiações no Brasil e no exterior por seu trabalho artístico. 

A cultura brasileira perdeu um grande artista e um grande homem de consciência social que lutou muito para ter seu espaço e receber o reconhecimento por seu talento.

Seu destaque maior foi nas novelas da Rede Globo que projetaram seu nome e sua performance autêntica e incomparável, com papéis dramáticos de relevância.

Foram mais de 30 peças. “Eles não usam black-tie”, de Gianfrancesco Guarnieri, ficou mais de um ano em cartaz no Teatro de Arena, em São Paulo. Milton considerava o Arena sua grande escola.

Começou a carreira na cidade de São Paulo. Milton trabalhava como gráfico quando, um dia, depois de assistir à peça A Mão do Macaco, a convite do ator Egídio Écio, saiu maravilhado. Tratou de entrar logo para um clube de teatro amador, do qual passou para um grupo profissional. Um novo diretor carioca procurava um ator para fazer um Preto velho na peça Ratos e Homens. O diretor era Augusto Boal e, o grupo, o Teatro de Arena de São Paulo. "Lá encontrei Gianfrancesco GuarnieriFlavio MigliaccioOduvaldo Viana e tantos outros. Estudavam história do teatro, impostação de voz, postura, filosofia, arte e política."

Milton escreveu quatro peças, uma delas montada pelo Teatro Experimental do Negro e dirigida por Dalmo Ferreira. "Ali aprendi tudo o que sei sobre teatro. Foi fundamental para a minha compreensão do mundo."

Militante do movimento negro, Milton Gonçalves chegou a tentar a carreira política, nos 90, ao candidatar-se a governador do estado do Rio de Janeiro, em 1994. Perdeu a eleição.

Gonçalves foi também o primeiro brasileiro a apresentar uma categoria na cerimônia de premiação do Emmy Internacional em 2006. Participou do especial Chico Eterno, que foi uma homenagem ao mestre do humor Chico Anysio, ao lado de Maurício ShermanFernanda MontenegroNizo NetoOrlando DrummondBoni, Quinzinho melhor amigo de Chico, esse programa foi gravado através da TV Verdes Mares, afiliada da Rede Globo no Ceará.

Foi homenageado no carnaval de 2021 pela Acadêmicos de Santa Cruz, com o enredo "Axé, Milton Gonçalves! No Catupé da Santa Cruz".

A viagem com o cinema também foi de muito prazer. São mais de 70 filmes na carreira. Foi três vezes vencedor do Festival de Gramado.

Nos estúdios de gravação, Milton Gonçalves se descobriu cada vez mais apaixonado pelo ofício de atuar e virou um dos rostos mais marcantes da TV Globo. A história dele se confunde com a da emissora. Foi contratado antes mesmo da inauguração, em 1965. Milton era um dos funcionários mais antigos e queridos da casa. Sua voz e seu nome se tornaram referência de televisão.

Foram mais de 40 novelas. Na última minissérie em que atuou, em 2019, fez uma participação em “Se eu fechar os olhos agora”. No mesmo ano, Milton emocionou o Brasil no especial de Natal “Juntos a magia acontece”. O especial levou o Leão de Ouro do Festival de Cannes.

Militante obstinado do movimento dos negros, nem as conquistas nem o tempo fizeram com que o ator se esquecesse das muitas vezes em que a cor da pele foi um obstáculo. Foi uma vida de luta como uma das vozes mais ativas contra o racismo.


   

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